Doença Hepática Alcoólica

Alcoolismo é um problema comum – 50% da população americana consome álcool regularmente e estima-se que existam de 17 a 20 milhões de alcoolistas nos Estados Unidos.

Não temos estatísticas precisas no Brasil, mas seguramente o problema tem magnitude semelhante. Homens são mais freqüentemente afetados que mulheres. Jovens com história familiar de alcoolismo e dificuldades em relacionamentos interpessoais estão em alto risco para a doença.

O alcoolismo causa doença hepática?


A maioria das pessoas que consomem álcool não apresentam dano clinicamente significante ao fígado. Entretanto, o consumo crônico excessivo de álcool pode causar uma variedade de problemas hepáticos, incluindo excesso de gordura no fígado (esteatose), hepatite alcoólica (inflamação no fígado) e cirrose (fibrose permanente do fígado).

Hepatite alcoólica e cirrose alcoólica se desenvolvem em cerca de 15 a 20% dos alcoolistas crônicos. Isto significa que mais ou menos uma em cada cinco pessoas com consumo pesado de álcool irão desenvolver o problema grave que é a cirrose hepática.

Estes pacientes podem falecer por insuficiência hepática, por sangramento gastrointestinal, infecções ou por insuficiência renal decorrente do problema no fígado. O tratamento curativo nestes casos é o transplante de fígado, que estará indicado somente naqueles que se abstiverem do álcool por vários meses.

A razão pela qual algumas pessoas que bebem álcool desenvolvem problemas no fígado e outras não é desconhecida, mas há pesquisas sugerindo uma possível conexão genética. Algumas pessoas são geneticamente mais susceptíveis aos efeitos do álcool do que outras. Infelizmente, ainda não dispomos de um teste laboratorial que identifique indivíduos com maior risco para doença hepática relacionada ao álcool.

Nos Estados Unidos, a cirrose hepática está entre as sete maiores causas de morte – e sua causa mais comum é o abuso de álcool. Além disto, o consumo excessivo aumenta o risco para pancreatite (inflamação do pâncreas), cardiomiopatia (danos ao músculo do coração), trauma (acidentes ocorrendo quando em estado de embriaguez) e o desenvolvimento da síndrome alcoólica fetal (danos à criança que ainda nem nasceu por excesso alcoólico durante a gestação).

Quanto álcool eu preciso beber para haver danos ao meu fígado ?


A quantidade de álcool consumida para que ocorra dano hepático é extremamente variável. Algumas pessoas são muito sensíveis aos efeitos do álcool, enquanto outras são aparentemente invulneráveis aos seus efeitos deletérios. Em geral, quanto maiores a quantidade e o tempo de ingesta, mais provável será que acontecerão lesões ao fígado. Mulheres são mais susceptíveis aos efeitos danosos do álcool que os homens.

O consumo diário de 475 ml de vinho, ou três latas de cerveja, ou 120 ml de bebidas destiladas (vodka, whisky) é equivalente a cerca de 20 a 40 gramas de álcool e resultará em danos hepáticos ao longo do tempo na maioria das mulheres. Um homem bebendo 80 gramas de álcool por dia desenvolverá, em média, cirrose hepática em 10 anos. Uma mulher bebendo a mesma quantidade desenvolverá cirrose em 5 anos.

É importante ressaltar que não há relação entre embriaguez e dano ao fígado decorrente do álcool. Isto significa que o fato de uma pessoa “estar acostumada a beber” e “não ficar bêbada” de maneira alguma protege contra doença hepática. E, lembrando o que já foi exposto, o risco aumenta conforme avançam o tempo de ingesta e a quantidade bebida por dia.

Por que as mulheres são mais vulneráveis ao álcool do que os homens?
 

A resposta a esta questão não é conhecida. Quando a quantidade de álcool consumido por homens e mulheres é ajustada para diferenças no tamanho corporal, as mulheres ainda parecem estar em risco maior de dano hepático a quantidades menores de álcool.

As mulheres têm níveis mais baixos de uma enzima chamada álcool desidrogenase, encontrada no revestimento do estômago. Esta enzima “quebra” o álcool antes que ele seja absorvido e diminui a concentração de álcool que alcança a corrente sanguínea.

Isto também pode explicar por que algumas mulheres sentem os efeitos do álcool em uma quantidade menor quando comparadas aos homens. A mensagem importante é: “Dano ao fígado ocorre em mulheres com consumo de menores quantidades de álcool.”

Que doenças do fígado são causadas por consumo excessivo de álcool ? 
 

Esteatose Hepática (Fígado gorduroso)

Esta condição pode ocorrer com ingesta significativa de álcool, mesmo em indivíduos que não são alcoolistas. Na esteatose, gotículas volumosas de gordura se acumulam no fígado. Exames de sangue podem identificar danos iniciais ao fígado. Nesta fase, quando o consumo é parado, a gordura tende a desaparecer e o fígado volta ao normal.

Hepatite Alcoólica

Esta é uma condição séria na qual o fígado foi severamente danificado pelos efeitos do álcool. A doença é caracterizada por fraqueza, febre, falta de apetite, náusea, vômitos e dor na área do fígado. O fígado está freqüentemente inflamado, causando a morte de várias células hepáticas. Ao contrário da esteatose, a hepatite alcoólica freqüentemente acaba levando à fibrose (algo como várias cicatrizes permanentes).

Seu médico pode precisar solicitar exames especiais de sangue e imagem para o correto diagnóstico. A hepatite alcoólica pode inclusive levar a risco de vida e requerer hospitalização. A recuperação de quadros de hepatite alcoólica é comum, mas a fibrose hepática é irreversível.

Cirrose induzida pelo álcool

Este desfecho final do dano ao fígado pelo álcool. A cirrose é uma forma irreversível, permanente, de dano hepático. A fibrose é intensa e leva à obstrução da passagem de sangue através do fígado. Isto impede que o fígado exerça suas funções críticas de purificar o sangue e os nutrientes absorvidos pelos intestinos. O resultado final é a insuficiência hepática.

Alguns sinais de insuficiência hepática incluem o acúmulo de líquido no abdome (ascite), desnutrição, confusão mental (encefalopatia) e sangramento a partir dos intestinos. Algumas destas condições podem ser contemporizadas com dieta, medicamentos e alguns procedimentos especiais; mas a recuperação espontânea do fígado e o retorno à saúde são raros.

A cirrose é uma causa freqüente de óbito e o álcool, responsável por boa parte dos casos (mais de 50% nos EUA); mas há também outras causas de cirrose como infecções virais crônicas (hepatite C, por exemplo) e hemocromatose.

Como se diagnostica se uma pessoa tem esteatose, hepatite alcoólica ou cirrose ?


Além dos dados da história clínica e do exame físico, exames de sangue e de imagem são geralmente muito úteis na avaliação do fígado. Entretanto, muitas vezes uma biópsia do fígado (retirada de fragmento para análise) é requerida para fechar o diagnóstico de cirrose e determinar a causa. A avaliação também pode ser feita de forma não invasiva através da elastografia hepática, por exemplo.

Existem complicações associadas à doença hepática alcoólica ?


Sim, cerca de um terço dos pacientes com doença hepática alcoólica sofrem de infecção do fígado pelo vírus da Hepatite C e perto da metade terá cálculos na vesícula. Aqueles com cirrose têm maior probabilidade de terem diabetes, problemas renais, úlceras e infecções bacterianas graves.

A doença hepática alcoólica me afetará quando eu estiver tomando remédios ?


Visto que uma das funções do fígado é de processar drogas e outras substâncias em seu corpo, se você tem uma doença hepática você poderá processar medicamentos diferentemente de outras pessoas. Sempre consulte seu médico a respeito da dosagem de remédios. De maneira similar, o álcool sozinho – mesmo sem a presença de doença no fígado – pode afetar o processamento de certos medicamentos.

Por exemplo, mesmo quantidades moderadas de álcool podem causar efeitos adversos com alguns analgésicos. Você deve checar com seu médico sobre precauções no uso de medicamentos no caso de você estar ingerindo álcool. Nunca use uma bebida alcoólica para tomar um remédio.

Como é o tratamento das doenças do fígado relacionadas ao álcool ?


De todos os tratamentos, o mais importante é parar completamente com a bebida. Algumas vezes, o fígado pode se recuperar do dano alcoólico de modo suficiente a permitir uma vida normal; mas infelizmente a fibrose danifica o fígado de maneira permanente e ele fica vulnerável a infecções ou a mais álcool.

Quando a cirrose avança para um estágio final complicado por sangramento gastrointestinal, confusão, ascite, insuficiência renal e infecções, o único tratamento será o transplante. Para que este tenha sucesso, o paciente deve aderir ao tratamento proposto (medicamentos e etc.), e seguir instruções de maneira confiável.

Somente pessoas que completam uma desintoxicação alcoólica e um programa de reabilitação com sucesso são considerados candidatos ao transplante.
 

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