Esofagite Eosinofílica

Visão global

 

O que é esofagite eosinofílica?


Esofagite eosinofílica (também conhecida como EEo) é uma doença caracterizada pela presença de um grande número de um tipo especial de células brancas do sangue, os eosinófilos, que podem causar inflamação no esôfago. Esta inflamação pode levar ao endurecimento ou estreitamento do esôfago, o qual, por sua vez, pode conduzir a dificuldade de deglutição (disfagia) ou impactação do alimento no esôfago. O refluxo do conteúdo ácido do estômago para o esôfago também pode aumentar os eosinófilos, porém em menor número, e inflamar o esôfago. As duas doenças podem coexistir. Na EEo, numa parcela dos pacientes, há melhora clínica após o tratamento do refluxo ácido com IBPS (inibidores da bomba de prótons). Embora os eosinófilos possam ser encontrados no resto do trato gastrointestinal numa pessoa saudável, quando presente no esôfago, geralmente sugere uma condição anormal. Enquanto outras doenças como a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), doenças parasitárias ou doenças inflamatórias intestinais possam ocasionar eosinófilos no esôfago, a EEo é a causa mais comum de números elevados de eosinófilos nesse local.

O quanto é comum a EEo em adultos?


Enquanto pensava-se previamente ser a EEo uma doença rara, foi reconhecido recentemente como uma das causas mais comuns de dificuldade de deglutição e impactação alimentar em adultos jovens. Isso tornou-se uma tendência mundial com o aumento do número de casos relatados de EEo nos cinco continentes. A causa para esse aumento é, provavelmente, a combinação do aumento das ocorrências de EEo e o conhecimento crescente da condição entre os gastroenterologistas, alergistas e patologistas. Pensa-se que a doença possa estar aumentando de uma maneira semelhante aos aumentos vistos em outras desordens alérgicas como a asma e a rinite alérgica. A ocorrência estimada desta condição em adultos pode ser tão alta quanto 1-3 por 10 000 pessoas, baseadas em informações de pacientes na Austrália e Suíça. Embora alguns estudos sugiram que a doença é mais comum na população caucasiana, tem sido vistos casos em pacientes afro-americanos, asiáticos e descendentes hispânicos. A EEo afeta o sexo masculino três vezes mais que o feminino.

Sintomas

 

Quais são os sintomas mais comuns da EEo em adultos?

Os sintomas mais comuns apresentados em adultos são a dificuldade de deglutir alimentos sólidos e a impactação de alimentos no qual a comida fica alojada no esôfago e é incapaz de passar para o estômago. Se o paciente desenvolve uma impactação do alimento, uma endoscopia geralmente é necessária para ajudar a aliviar a obstrução. A maioria dos adultos com sintomas estão entre os 20 e 40 anos de idade, embora haja casos de adultos apresentando em idades muito mais tardias. Outros sintomas, menos comuns, são a pirose retroesternal (azia) e dor torácica.

Diagnóstico

 

Como é diagnosticada a EEo?


Atualmente, a única maneira de diagnosticar essa condição é realizar uma endoscopia alta com biópsias (tomada de pequenas peças de tecidos) do esôfago. Durante a endoscopia, um tubo flexível, fino, com uma câmera, que permite o doutor ver dentro do esôfago, é inserido para o esôfago enquanto pacientes está sedado (dormindo por causa de medicação). As biópsias retiradas da superfície do esôfago (mucosa) são, depois, inspecionadas num microscópio pelo patologista procurando alterações características de EEo. Estas alterações incluem um grande número de eosinófilos na porção superficial do tecido de biópsia e inflamação tecidual. Algumas vezes a cicatrização ou fibrose pode ser vista nas porções mais profundas do tecido. Na EEo os eosinófilos estão limitados ao esôfago e não estão presentes no estômago e duodeno.

Geralmente existem aspectos característicos que o gastroenterologista pode ver no esôfago de pacientes com EEo. São eles os sulcos ou vincos lineares no esôfago e anéis concêntricos da camada superficial do esôfago. Outros aspectos incluem o estreitamento do esôfago, pontos brancos sobre o tecido esofágico e segmentos estreitados, pequenos do esôfago chamados de estenoses. Enquanto estas alterações sejam sugestivas de EEo, somente a sua presença não diagnostica a condição. O esôfago também pode ter aparência normal em pacientes adultos com EEo.

Os sintomas de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) como pirose retroesternal (azia) e regurgitação podem se sobrepor aos sintomas de EEo. Pode acontecer de algumas pessoas terem ambas, DRGE e EEo ou uma delas ser a responsável pela outra. Por exemplo, pessoas com EEo têm maior dificuldade em remover o ácido do esôfago pelas alterações na motilidade esofágica ocasionadas pela doença e originar DRGE. Da mesma maneira, a inflamação esofágica ocasionada pela DRGE pode aumentar os espaços entre as células e permitir a passagem de partículas alergenas entre elas e desencadear a EEo. Até recentemente, quando se encontrava um aumento de eosinófilos num tecido de biópsia do esôfago na população adulta, eram submetidos a um tratamento com redutores de ácido (IBPS) para ver se os eosinófilos desapareciam. Uma nova endoscopia era realizada após o tratamento. Se os eosinófilos ainda estavam no tecido o paciente provavelmente tinha EEo. Se tivesse desaparecido, seria DRGE. Hoje se sabe que os inibidores da bomba de prótons (IBPs), além da sua função em inibir a produção de ácido têm também função anti-inflamatória, reduzindo o número de eosinófilos, sendo eficientes também no tratamento da EEo em 50% dos casos.

O diagnóstico atual da esofagite eosinofílica baseia-se nas queixas clínicas da pessoa, no aumento de eosinófilos à biópsia de esôfago realizada por endoscopia digestiva alta, seguida da exclusão de outras doenças que, potencialmente, poderiam causar ou contribuir para a eosinofilia do esôfago.

Causas

 

Qual é a causa da EEo?


Atualmente a causa da EEo em adultos não está claramente identificada. Alguns estudos sugerem uma reação alérgica em resposta a alergenos alimentares ou ambientais. Também pode haver uma causa genética em alguns pacientes. Um estudo recente identificou um aumento de um gene codificando para uma proteína chamada eotaxina-3 em pacientes com EEo. Outras evidências que dão suporte a uma causa genética é que alguns adultos têm uma história familiar de desordens alérgicas e uma história familiar de EEo.
Uma história de condições alérgicas como a rinite alérgica, asma, eczema ou alergia alimentar tem sido vista, pela história ou por um teste alérgico positivo, em até 70% dos adultos com EEo. Em um estudo recente, adultos tratados com dieta de eliminação melhoraram sua EEo, mas a recidiva ocorreu quando certos alimentos foram reincorporados à dieta. Isto sugere que os alergenos alimentares desempenham um papel em alguns adultos com EEo.

Tratamento

 

Quais são os tratamentos mais comuns para a EEo em adultos?

Atualmente, não existe nenhuma terapia que seja totalmente eficiente para todos os pacientes com EEo. Existem três linhas de tratamento (os três D): dieta, drogas e dilatação.

Embora o tratamento dietético seja o mais comum em crianças, não tem sido amplamente aceito entre os gastroenterologistas que tratam pacientes adultos. Geralmente inicia-se o tratamento com inibidores da bomba de prótons (IBPs), os quais são eficientes e podem beneficiar pacientes com DRGE coexistente. São observadas melhora clínica e histológica em 50% dos casos a qual é mantida a longo prazo com tratamento de manutenção (dose menor eficiente). Se não houver melhora dos sintomas ou das alterações teciduais dos eosinófilos, então são tentados os esteroides não sistêmicos, obtendo-se bons resultados. Utilizam-se os inaladores para asma, mas, ao invés de inalar, a pessoa deve misturar o seu conteúdo com uma substância viscosa (por exemplo, mel) para, ao deglutir o medicamento, aumentar a ação de contato com a superfície do esôfago. Este tratamento tende a ser bem tolerado e produzir bons resultados. Efeitos colaterais como uma infecção por fungos, chamada sapinho ou candidíase esofágica, é relativamente rara. Recentemente foi introduzido um medicamento imunobiológico (Dupilumab), que deve ser utilizado somente em algumas situações especiais e sob orientação médica adequada. A desvantagem é o seu alto custo.

O tratamento dietético pode ser de três tipos: elementar, de eliminação (dois, quatro ou seis alimentos) e dirigida por alergias, durante seis a oito semanas. Após esse período, havendo melhora, os alimentos são reintroduzidos gradativamente, um de cada vez, para orientar a identificação do agente desencadeador. A dieta elementar é uma fórmula baseada em aminoácidos. Elas podem ter um gosto ruim e serem caras. Por isso, a dieta por eliminação é a preferida pela maioria das pessoas. Nela, são eliminados dois, quatro ou todos os principais alimentos desencadeadores da reação inflamatória (leite, soja, ovos, trigo, nozes ou frutos do mar). A dieta de eliminação é aquela baseada na eliminação de alimentos que foram positivos para alergia após realizados testes alérgicos. Esta, tem pouco resultado.

O tratamento dietético mostrou-se útil em alguns pacientes com EEo e pode ser tentado com pacientes motivados (desejosos de seguir adiante com a eliminação de alimentos) sob os cuidados de uma nutricionista experiente.

Se os pacientes não responderem ao tratamento médico e/ou dietético, o processo inflamatório pode ocasionar um estreitamento do esôfago, com dificuldade à passagem dos alimentos (engasgos). Nestes casos pode ser necessário uma dilatação ou “alargamento” do esôfago através da endoscopia. Embora a dilatação possa ser útil a curto prazo, dilatações repetidas podem ser necessárias para controlar os sintomas. Uma vez que a dilatação sozinha não afeta a inflamação subjacente no esôfago, este procedimento é realizado geralmente em pacientes que também estão sendo tratados com terapia médica ou dietética. Os riscos da dilatação esofágica são a dor torácica após o procedimento e, em casos raros, a perfuração ou laceração do esôfago. Embora a dilatação possa ser realizada com segurança, ela deve ser feita com cuidado e é quase sempre realizada após a falha de uma tentativa de tratamento médico ou dietético.

Quais são as consequências a longo prazo da EEo?


Existem informações limitadas acerca da história natural desta doença em adultos. Estudos atuais sugerem que é uma condição crônica e recorrente. Pacientes têm sintomas persistentes embora os níveis de eosinófilos possam alterar ao longo do tempo. As complicações podem ocorrer, como a estenose esofágica e impactações alimentares. Em casos muito raros, o vômito forçado, impactações alimentares prolongadas e dilatações esofágicas podem ocasionar perfuração ou laceração do esôfago o que necessita atenção médica imediata.
Atualmente o tratamento da EEo está direcionado para controlar os sintomas, reduzir os níveis de eosinófilos nos tecidos e prevenir complicações da doença, como as impactações alimentares.

Atualizado em: 12/03/2024

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